Linha do tempo das políticas de saúde no Brasil – 1930-2020

Contexto histórico

1930-1945

Era Vargas: compreende o Governo Provisório, o Governo Constitucional e o Estado Novo, marcado pela industrialização do país e pela criação das leis trabalhistas.  

Fonte: Juarez-Getulio-Juracy (1931).
Fundação Pedro Calmon.

Ampliação e maior controle do Estado na previdência social.

Marcos das políticas de saúde no Brasil

Anos 1930

  • Criação dos institutos de seguridade social – Institutos de Aposentadorias e Pensões (IAP), organizados por categorias profissionais.

1941

  • 1ª Conferência Nacional de Saúde, com os temas: “Organização sanitária estadual e municipal” e “Ampliação e sistematização das campanhas nacionais contra a hanseníase e a tuberculose”.
Fonte: Fiocruz (2011).

1942

  • Criação do Serviço Especial de Saúde Pública (Sesp), com financiamento de outros países. O Sesp tinha uma atuação direcionada para as áreas não cobertas pelos serviços tradicionais. Sua criação possibilitou experiências importantes de integração da saúde pública com a assistência médica voltada para as necessidades da população rural. Funcionou como uma agência bilateral brasileira-americana.
Fonte: Arquivo Gustavo Capanema/CPDOC.

1946-1963

Anos JK (1956-1961): desenvolvimentismo e aceleração da industrialização nacional.

Fonte: Arquivo Nacional.

1950

  • 2ª Conferência Nacional de Saúde, com o tema “Legislação referente à higiene e segurança do trabalho”.

1953

  • Criação do Ministério da Saúde (MS).

1958

  • Criação do Serviço de Assistência Médica Domiciliar e de Urgência (Samdu).

1960

  • Continuidade de ações de interiorização das ações de saúde pública, por meio da substituição do Sesp pela Fundação Serviço Especial de Saúde Pública, marcada pelo fim da parceria internacional (a Fundação esteve presente até 1990).

1963

  • 3ª Conferência Nacional de Saúde – descentralização na área da saúde e início da proposição de um sistema integrado de saúde.
Fonte: Fiocruz (2011).

1964-1974

Golpe Militar (1964).

Origem do Movimento da Reforma Sanitária, no início da década de 1970.

Fonte: Arquivo Nacional.

Movimento médico na luta pela redemocratização do país.

1966

  • Unificação dos IAP no Instituto Nacional de Previdência Social (INPS).
  • Implosão do arranjo corporativo que originou a Previdência Social, sem uniformização entre os trabalhadores assalariados: trabalho formal como condição para o acesso à saúde.

1970

  • Superintendência de Campanhas de Saúde Pública (Sucam).
Fonte: Funasa (2021).

1974

  • Desmembramento do INPS e criação do Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social (Inamps).
Fonte: Museu da Pessoa.
  • Financiamento público de prestadores privados.
  • Criação do Ministério da Previdência Social (MPS).

1976

  • Criação do Programa de Interiorização das Ações de Saúde e Saneamento (Piass).

1976

  • Criação do Centro Brasileiro de Estudos de Saúde (Cebes).

1977

  • O Inamps tornou-se autarquia federal pela Lei n. 6.439, que instituiu o Sistema Nacional de Previdência e Assistência Social (Sinpas).

1978

  • Conferência de Alma-Ata, com o tema “Saúde para todos no ano 2000”.

1978

  • Crise do Inamps. Crise no financiamento da previdência social que acabou afetando sua atuação, passando a partir desse período por diversas mudanças, com universalização progressiva do atendimento.

1975-1987

Intensificação do êxodo rural.

Início e fortalecimento do processo de redemocratização.

Movimento Diretas Já! nos anos 1983 e 1984.

Término da ditadura militar em 1985.

Fonte: Arquivo da Agência Brasil.

1981

  • Criação do Conselho Nacional de Administração da Saúde Previdenciária (Conasp) para buscar respostas sobre a crise do setor.
  • Criação das Ações Integradas de Saúde (AIS).

1982

  • Criação da Pastoral da Criança.

1986

  • Carta de Ottawa – 1ª Conferência Internacional sobre Promoção da Saúde, realizada em Ottawa, Canadá.
  • 8ª Conferência Nacional de Saúde com a participação de diferentes setores organizados da sociedade.
Fonte: Acervo Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz.

1988-2005

Promulgação da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988: “A saúde é direito de todos e dever do Estado” (art.196).

Fonte: Senado Federal.

1990

  • Criação do Sistema Único de Saúde (SUS), regulamentação, princípios e diretrizes.
  • Lei n. 8.080/90. Dispõe sobre as condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos serviços correspondentes. Define os princípios e diretrizes do SUS.
  • Lei n. 8.142/90. Dispõe sobre a participação da comunidade na gestão do SUS e sobre as transferências intergovernamentais de recursos financeiros na área da saúde, e dá outras providências.

Fim da Guerra Fria em 1991.

1991

  • Programa de Agentes Comunitários de Saúde (Pacs).

Conferência Eco-92 em 1992.



Impeachment
do presidente
Collor de Mello, em 1992.

1992

  • Programa Médico de Família (Niterói/RJ).              

Governo Fernando Henrique Cardoso (1996-2002): período de crescimento do neoliberalismo.

1994

  • Programa Saúde da Família.
Fonte: CCSM.

1996

  • NOB 96 – reorientação do modelo de atenção por meio da Atenção Básica em Saúde.
  • Financiamento para a Atenção Básica e Saúde da Família.

1998

  • Implantação do Sistema de Informação da Atenção Básica (Siab).

1999-2000

  • Desenvolvimento institucional:
  • Criação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
  • Criação da Agência Nacional de Saúde Suplementar.

Governo Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2011), em que se evidenciam dois momentos: regulamentação do SUS e início da APS no Brasil.

2000-2005

  • Relatório da OMS – Avaliação dos Sistemas de Saúde no Mundo (2000).
  • Definição de recursos mínimos para a saúde (2002): Emenda Constitucional (EC) n. 29.
  • Renovação da Atenção Primária em Saúde nas Américas (2003): documento de posicionamento da Opas/OMS.
  • Criação de diferentes programas, políticas e protocolos como Samu, Proesf, PNH, Brasil Sorridente, Farmácia Popular do Brasil e políticas específicas: ciclos de vida, linhas de cuidado.

2006

  • Pacto pela Saúde
Fonte: Centro de Educação e Assessoramento Popular. Autor: Leandro Bierhals.

2006-2011

Crise econômica mundial (2008).

2011

  • Programa Saúde da Família (PSF) passou a ser estratégia (PNAB 2006 a 2011).
  • Implantação de métodos avaliativos: Programa Nacional de Melhoria de Avaliação e Qualidade (PMAQ) (2011).
  • Decreto n. 7.508/2011: regulamenta a Lei n. 8.080/1990 para dispor sobre a organização do SUS.
  • Contrato Organizativo de Ação Pública (Coap) (2011) tem suas bases no Decreto Federal n. 7.508/2011, na Deliberação da Comissão Intergestores Tripartite (CIT) n. 02/2011, e nas decisões das Comissões Intergestores Bipartite (CIB) e Regional (CIR), as quais definem a organização das ações e serviços na região de saúde, em consonância com os princípios e diretrizes constitucionais do SUS e o conjunto de normas legais e infralegais organizadoras do SUS.

Apesar de criado em 1988 e de suas subsequentes legislações, o SUS só teve a sua Lei n. 8.080/1990 regulamentada pelo Decreto n. 7.508/2011, que dispõe, também, sobre a organização do SUS, o planejamento da saúde, a assistência à saúde e a articulação interfederativa, e dá outras providências.

O Coap é um instrumento da gestão compartilhada. Um acordo de colaboração firmado entre entes federativos para organizar e integrar as ações e serviços de saúde na rede regionalizada e hierarquizada, com definição de responsabilidades, indicadores e metas de saúde, critérios de avaliação de desempenho, recursos financeiros que serão disponibilizados, forma de controle e de fiscalização de sua execução e demais elementos necessários à implementação integrada das ações e serviços de saúde.

Tudo isso pactuado com clareza e dentro das práticas federativas, que devem ser adotadas em um Estado Federativo.

2012-2017

2012

  • Sancionada a Lei Complementar n. 141, com a regulamentação da EC n. 29/2000: balizadora das transferências da União, estados e municípios para o SUS, encerra um conflito político de 11 anos sobre o financiamento da saúde pública. Aprovada ainda no governo Fernando Henrique, a EC n. 29 necessitava de regulamentação para que a repartição dos recursos do SUS entre a Federação ocorresse sem distorções.

2013-2014

  • Criação do Programa Mais Médicos, com objetivo de suprir a carência de profissionais nos municípios do interior e nas periferias das grandes cidades do Brasil (2013).
  • Movimento Saúde+10: aplicação mínima de 10% da receita corrente bruta da União em ações e serviços públicos de saúde (ASPS) (2013-2014).

2015

  • Epidemia do zika vírus.
Fonte: Foto de Raul Santana.
  • Proposta de Emenda à Constituição (PEC) n. 86/2015: congelamento das receitas da União.

Impeachment da presidente Dilma Roussef, em 2016.

Fonte: Agência Senado. Foto: Marcos Oliveira
Dilma Rousseff faz sua defesa na sessão de julgamento do dia 29 de agosto de 2016, no plenário do Senado.


Período marcado por um processo de desinvestimento e debilitação do SUS (2016-2019), a partir da promulgação da EC n. 95/2016.

2016

  • Promulgação da EC n. 95, limitando, pelos próximos 20 anos, os gastos federais, que passarão a ser corrigidos pela inflação do ano anterior e, no caso da saúde, não mais pelo crescimento da RCL. A EC n. 95 reduziu a correção anual do financiamento federal da área social.
Fonte: Brasil de Fato.

Governo transitório de Michel Temer (2017-2018).

2017

  • Pnab (revisão): Portaria n. 2.436 apresenta as novas diretrizes de atenção básica do SUS, com mudanças na administração dos recursos na esfera municipal, na forma de atuação dos agentes de saúde, bem como reconhece e financia outros modelos de AB, além da ESF.
  • Portaria n. 3.992: altera as modalidades de transferência dos recursos federais e cria dois blocos para o repasse de recursos (custeio e investimentos).

2018-2020

Governo Jair Bolsonaro (2019-2022).

Fonte: Foto de Alberto Giuliani.

2019

  • Criação do Programa Previne Brasil, que extingue os pisos fixo e variável (PAB), introduz o repasse dos recursos federais pelo número de pessoas cadastradas e estabelece nova forma de pagamento por desempenho.

2020

  • Portaria n. 188, publicada em fevereiro, declara Emergência em Saúde Pública de Importância Nacional (Espin), em decorrência da infecção humana pelo novo coronavírus.
  • Crise sanitária: a pandemia chega num momento em que o SUS se encontra subfinanciado, com a AB fragilizada, com acesso a menos recursos, humanos e financeiros. Período marcado pela ausência de coordenação do MS.
Referências

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CAMPOS, A. L. V. Políticas Internacionais de Saúde na Era Vargas: o Serviço Especial de Saúde Pública, 1942-1960. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2006. Disponível em: https://doi.org/10.7476/9786557081006. Acesso em: 18 fev. 2022.

CENTRO CULTURAL DO MINISTÉRIO DA SAÚDE. Linha do tempo: trajetória do PSF. Rio de Janeiro: CCMS, [20--]. Disponível em:  http://www.ccms.saude.gov.br/asaudebateaporta/timeline.php. Acesso em: 7 fev. 2022.

CENTRO DE EDUCAÇÃO E ASSESSORAMENTO POPULAR. Pacto pela saúde: possibilidade ou realidade? Passo Fundo: IFIBE, 2007.

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DEPOSIÇÃO do Governo João Goulart – Golpe de 1964 15.tif. In: WIKIPEDIA: a enciclopédia livre. 2018. 1 fotografia. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Deposi%C3%A7%C3%A3o_do_Governo_Jo%C3%A3o_Goulart_%E2%80%93_Golpe_de_1964_15.tif. Acesso em: 5 fev.2022.

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FIOCRUZ. Linha do tempo: Conferências Nacionais de Saúde. Rio de Janeiro: Fiocruz, [2011]. Disponível em: https://portal.fiocruz.br/linha-do-tempo-conferencias-nacionais-de-saude. Acesso em: 5 fev. 2022.

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KRAPP, J. Casa de Oswaldo Cruz preserva memória da Oitava Conferência. Rio de Janeiro: Fiocruz, 29 ago. 2016. Disponível em:  https://portal.fiocruz.br/noticia/casa-de-oswaldo-cruz-preserva-memoria-da-oitava-conferencia. Acesso em: 5 fev. 2022.

 MUSEU DA PESSOA. Documento INAMPS. São Paulo: Museu da Pessoa, [20--]. Disponível em: https://acervo.museudapessoa.org/pt/conteudo/imagem/documento-inamps-98525. Acesso em: 7 fev. 2022.

 REINHOLZ, F. Emenda 95, o enfraquecimento do pacto social. Brasil de Fato, Porto Alegre, 3 out. 2018. Disponível em: https://www.brasildefato.com.br/2018/10/03/emenda-95-o-enfraquecimento-do-pacto-social. Acesso em: 7 fev. 2022.  

SANTANA, Raul. Aedes aegypti, popularmente conhecido como mosquito da dengue. Rio de Janeiro: Fiocruz Imagens, 16 abr. 2008. 1 fotografia. Disponível em: https://www.fiocruzimagens.fiocruz.br/media.details.php?mediaID=1509. Acesso em: 18 fev. 2022.